Helena
acordou e não sabia onde estava.
Sentava
escorada na cabeceira do lado direito de uma cama macia e um senhor,
sentado ao seu lado numa cadeira velha de palhinha, lhe dava sopa na
boca após soprar delicadamente cada colherada.
Ela
olhou ao redor, mas não reconhecia nada. O quarto lhe era tão
estranho quanto as fotos espalhadas por ele, mas o senhor lhe parecia
familiar, como se já tivesse conversado com ele há cinco anos atrás
e agora o visse novamente.
O
senhor abriu a boca e falou coisas que Helena não entendeu, mas
reconheceu uma palavra e se pôs a repetir para o senhor:
– Sopa!
Sopa!
O
velho fez que sim com a cabeça e voltou a soprar mais uma colher de
sopa. Após dar a sopa mais uma vez para Helena, voltou a conversar,
com uma expressão cansada.
Helena
reconheceu mais uma palavra e novamente a repetiu para o velho:
– Benício!
Benício! Benício!
A
face cansada do senhor se acendeu num sorriso escasso em dentes. Ele
passou a conversar mais e de uma maneira mais alegre. Helena não
entendeu nenhuma palavra dessa vez, até que:
– Alzheimer!
Alzheimer!
Agora
o rosto do velho tomou uma expressão triste, confirmando com a
cabeça.
Helena
olhou para Benício e, sem entender uma palavra do que aquele velho
disse, soube que ele a amava. Benício voltou seu olhar também para
os olhos de Helena e após alguns segundos em silêncio ele lhe deu
um beijinho na bochecha.
Ao
se afastar, Benício viu um sorriso estampado no rosto de Helena,
enquanto os olhos dela focalizavam eternamente o retrato dos dois na
porta de uma igreja, no dia de seu casamento, que se encontrava sobre
um gaveteiro em frente à cama.
Benício
soube que aquele dia estava diferente, ela nunca dizia o nome dele, e
percebeu que se aproximavam do fim. Ele segurou a mão de Helena, viu
uma lágrima rolar do rosto dela e, então, se despediu sussurrando
as últimas palavras que Helena ouviu e entendeu:
– Vou
sempre amar você, Helena.
***
Nota 1: Quem quiser pegar o texto para uso geral, sinta-se à vontade; apenas me comunique antes e credite ao autor (Arthur Dias) e ao blog (DiscoDiVinil).
Nota 2: Finjam todos que são grandes críticos de literatura e tentem me orientar: critiquem, sugiram mudanças, apontem meus erros e comentem o que acharam do texto.
Nota 3: Esse conto faz parte do projeto "Semana de Mini Contos". Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.
Achei legal trabalhar sobre esse tema. Para um miniconto ficou legal, sim... mas não teve nada de mais ^^
ResponderExcluirConcordo, mas a intenção não foi acrescentar alguma coisa à vida do leitor. O conto, assim como todo o projeto, visa mais entreter do que se destacar. O enredo é criado e os personagens aprofundados, mas respeitando o limite imposto pelo prefixo "mini".
ResponderExcluirObrigado pelo comentário e grande abraço!
Um conto legal.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário em concordância com o tipo de conto.
ResponderExcluirQue conto triste e tocante.
ResponderExcluirVocê é tão nisso. Em provocar sensações!
Obrigado, Maria!
ResponderExcluirFico feliz que você tenha captado ao menos um pouco de emoção nessas poucas linhas escritas. Espero que leia também os contos que serão publicados nos demais dias da semana. (:
Grande abraço!
Gostei do conto Arthur, mesmo sendo pequeno! Só tive a impressão de que o nome Helena se repetiu muito no texto. Voltarei para ler os próximos contos :)
ResponderExcluirBeijos
Débora - Clube das 6
http://www.clubedas6.com.br
Obrigado, Dé!
ResponderExcluirEu não havia reparado, mas o nome se repetiu muito mesmo durante o conto. Obrigado por me informar isso, tentarei evitar o erro nos próximos textos.
Estarei esperando seus comentários nos demais mini contos do projeto. :D
Grande abraço!
Oi Arthur!!!
ResponderExcluirGostei do conto!!!
Tão lindo e ao mesmo tempo triste né?! Enfim, estarei aqui durante a semana para acompanhar os próximos contos ;)
Um Beijo!
aculpaedosleitores.blogspot.com.br
Pô Arthur! Assim não dá! Começar a semana com um nó na garganta é cruel hein?!
ResponderExcluirParabéns pelo mini-conto. É realmente muito tocante. Quero aprender a amar como Benício.
Puxa... Profundo! Dá até um nó na garganta. Mas, como sempre, ficou muito bem escrito! Parabéns! Estou gostando do projeto. Continue. :D
ResponderExcluirTaty, obrigado!
ResponderExcluirFicarei te esperando comentar nos próximos contos! Beijos.
Lucas, hahaha, muito obrigado! Também procuro conseguir ter um amor tão singelo e verdadeiro como o de Benício, capaz de cuidar da outra pessoa até o final.
Grande abraço aos dois!
Obrigado, Bruna!
ResponderExcluirO projeto estará rolando até dia 05/04, então fique à vontade para acessar o blog, ler os contos e comentar! ;D
Grande abraço!
A Taty já está representando o ACEDLeitores aqui nos comentários, mas preciso mto expressar minha opinião!!
ResponderExcluirArthur eu sou uma grande admiradora do seu trabalho, mas seus contos me deixam frustradas... Fico querendo mais, imaginando o que aconteceu anteriormente aos personagens, e o que acontecerá futuramente rsrsrsrs.
Tem certeza que vc não quer prolongar seus contos??
Beijos,
aculpaedosleitores.blogspot.com.br
Hahaha, obrigado por gostar de mais esse conto, Bia.
ResponderExcluirPenso em prolongar um dos contos sim, mas fico receoso em estragá-lo. xD
Já pensei em publicar capítulos de livros que vou escrevendo aos poucos, essa pode ser a saída mais viável para esse problema, haha.
Enfim, ainda estou analisando as possibilidades, mas em breve irei lançar histórias maiores e melhor trabalhadas.
Grande abraço!
Eu achei lindo. Quero um amor como o dele e ser amada como ela.
ResponderExcluirParabéns.
Obrigado, Gabi! :D
ResponderExcluirIsso acaba sendo o que todos querem no final, o demorado é perceber que se quer mesmo isso e fazer o necessário para consegui-lo.
Abraços!
Oi!
ResponderExcluirEstou meio atrasada, eu sei, mas vou comentar mesmo assim.
Eu gostei do seu texto, como sempre. Mas eu mudaria uma coisa, logo no início você escreveu: "[...] mas o senhor lhe parecia familiar, como se já tivesse conversado com ele há cinco anos atrás e agora o visse novamente". Eu não usaria um número específico, como você usou o 5. Isso me incomodou bastante, você poderia ter substituído o trecho por "como se já tivesse conversado com ele em um passado não muito distante" ou algo do gênero.
É sempre difícil dizer a você o que me incomoda, mas espero que tenha entendido o porquê disso tudo.
Abraços!
Alice.
É mais fácil falar sobre coisas felizes não é?
ResponderExcluirLi e reli esse pequeno conto, até conseguir enxergar todos os detalhes.
Não sou uma boa crítica, fiquei um pouco triste por saber que alguém está sofrendo tanto e que não há como remediar nesse caso.
Sou uma romântica incorrigível, então já viu...
Ana P.M. ♛ Queen Reader - Venha conhecer o Castelo!
http://booksandcrowns.blogspot.com.br/
Olá, Alice!
ResponderExcluirNão se preocupe por estar atrasada, comentários proveitosos não tem hora pra chegar. (:
Concordo com o que você colocou, especificar uma data exata é forçação de barra. Nos próximos contos evitarei esse recurso em casos semelhantes.
A sua crítica, assim como a da Débora, são do tipo que me fazem voltar ao texto e relê-lo. Que me mostram um ponto que eu poderia ter trabalhado melhor e deixei por isso mesmo, às vezes até por falta de atenção. Então obrigado pelo alerta e pela crítica sincera.
Grande abraço!
Pois é, Ana. Esse conto foi parcialmente baseado em um casal de verdade que eu tive o prazer de conhecer. Ela tem Alzheimer e ele acaba tendo que fazer praticamente tudo por ela. (Ela não fica o dia todo na cama, mas seu estado na doença está tão grave que não se lembra mais de seu nome; de que a sensação de fome quer dizer que ela deve comer alguma coisa; e, não tenho certeza, mas acho que nem mesmo falar ela consegue mais).
ResponderExcluirConheci esse casal na véspera de suas bodas de ouro, quando eles queriam ampliar uma fotografia do dia de seu casamento (ambos de pé em frente à igreja).
Como você disse, é triste saber que existem casais passando por situações assim; mas também é muito gratificante saber que eles conseguiram chegar a esse estágio. E se suas memórias não podem ser guardadas por duas cabeças, uma continua a fazer a outra se lembrar.
Abraços.
Gostei bastante desse miniconto, concordo com tudo o que a Ana disse ali em cima; assim como ela, sou uma romântica incorrigível, e histórias tristes, ainda que curtas como a desse conto, sempre me comovem. :)
ResponderExcluirBeijos.
http://livroscomchadastres.blogspot.com.br
Obrigado pelo comentário, Gabi!
ResponderExcluirFico feliz que o conto tenha lhe comovido, apesar do tamanho.
Grande abraço!
Ai que triste, Arthur! Sacanagem me fazer terminar de ler esse conto com os olhos úmidos. rsrs
ResponderExcluirMuito, muito, muito legal! Adoro seus textos, continue assim! Abordando os temas dos mais variados e escrevendo de forma tão prática e gostosa de ler. Parabéns!
xx
Vê
Only The Strong Survive
É o tipo de texto triste que nos comove muito, um final belo porém triste! Mas isso não anula o quanto gostei do conto.
ResponderExcluirParabéns!!
http://joandersonoliveira.blogspot.com.br/