Resenha #21 - Laranja Mecânica


TÍTULO: Laranja Mecânica

AUTOR: Anthony Burgess

EDITORA: Aleph

PÁGINAS: 200

SINOPSE: Em um futuro distópico a violência atinge níveis super elevados: Enquanto a maioria da população passa o tempo livre assistindo televisão, com medo de sair nas ruas, os adolescentes criam gangues para praticar o que chamam de "ultraviolência". Certa noite, uma dessas gangues perde seu líder. Alex acabou de assassinar uma mulher cuja casa ele invadiu e foi sentenciado a 14 anos de prisão. Traído por seus amigos, o ingênuo e inconsequente Alex cumpre dois anos de sua sentença até lhe ser proposta uma alternativa: Um novo método governamental de lavagem cerebral, que lhe garante jamais voltar a praticar ações más, mas que tira sua capacidade de escolha, sua liberdade, transformando-o em nada além de uma laranja mecânica.


  Eu demorei um pouco mais de tempo do que esperava para terminar esse livro. Ele é bem curto, mas o início foi tão repleto de selvageria, espancamentos, estupros e agressões em geral, que minha leitura acabou sendo afetada. Mas não se enganem, o livro não pode ser resumido por esses momentos e, se pudesse ser resumido por algum outro, seria pelo singular estudo da natureza humana e do poder de decisão.

  Explicado o único ponto "negativo" do livro, devo enfatizar a engenhosidade de Burgess em todos os outros pontos, vírgulas, exclamações e reticências. A maneira como o autor narrou a história, pela perspectiva de Alex, o protagonista, foi excelente para entendermos sua transformação no decorrer do enredo. E a narrativa não foi o único beneficiador dessa visão; a própria diagramação do livro, dividido em três partes com sete capítulos cada, favorece nosso entendimento das mudanças ocorridas na mente de Alex.

  O livro trás um vocabulário chamado "Nadsat", criado por Anthony Burgess, que visa provocar estranheza no leitor, inserindo-o em um mundo que ele não conhece, mergulhando-o numa cultura tão diferente que nos assemelha a velhos frente à adolescência rebelde vigente. Porém, Vosso Humilde Narrador, Alex, faz com que isso não dure muito tempo. - Não que ele pare de utilizar a linguagem, mas você aprende a usá-la; afinal, veks starres são os outros. Poneou?

  Quanto ao protagonista, ao mesmo tempo que o odiamos por ser um vilão mal caráter, que pratica os atos mais sádicos, acabamos sendo cativados por sua personalidade ingênua captada pela narrativa fluida. O que chega a ser angustiante, porque eu não achei que houve justiça ao final do livro, não achei que ele sofreu tanto quanto suas vítimas; mas não é disso que trata o livro e, assim como o governo da história não se importa com o que os presidiários submetidos ao teste pensam, não nos importemos com o passado ou com o futuro de Alex: Foquemos no que o autor quis transmitir. Não podemos perder nossa capacidade de escolha, mesmo que a usemos para seguir caminhos perversos.

  Também assisti ao filme de Stanley Kubrick e gostei, apesar de encontrar algumas diferenças. Alex, que na adaptação ganhou o sobrenome DeLarge, continua tão cativante quanto no livro. Além disso, a adaptação tornou mais fácil visualizar o futuro descrito no livro, tão violento quanto o próprio Alex.

  O futuro criado por Anthony, por mais extremista que seja, pode facilmente ser comparado ao nosso presente. Nossas decisões, pensamentos e escolhas não devem ser influenciadas por governos ou morais coletivas, mas demonstrações de nossa liberdade. A ideia geral que o livro passa é que é muito difícil classificar o que é "bem", o que é "mal" e qual é o limite entre essas duas coisas; cada ser humano tem sua individualidade, composta de frações desses dois opostos, e mais vale resguardar o que escolhemos seguir do que nos ser tomada nossa capacidade de escolha, nossa humanidade.

10 comentários:

  1. Sempre imaginei que esse livro deve ser muito - perdão o palavreado - foda. Mas eu realmente não gosto de cenas pesadas, principalmente de estupro, motivo que me faz evitar tanto o livro quanto o filme.
    Sua resenha é ótima, me deu muita vontade de ler, mas não quero ler algo que faça com que eu me sinta tão mal, acho desnecessário me sujeitar a algo do tipo. Essas cenas de violência são muito descritivas no livro?

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  2. Sim, Laranja Mecânica é foda - e não se preocupe, "foda" é uma palavra leve pra quem acabou de ler o livro.
    Também não gosto de cenas pesadas, mas vou tentar fazer aqui um paralelo entre este e um outro livro que li, Terra da Morte, o qual detesto.
    No livro de Burgess as cenas violentas tem um propósito - mostrar uma realidade hostil e brutal, onde os jovens agem com a mais pura rebeldia, os adultos são alienados e o governo usa de métodos arbitrários e abusivos para amenizar a situação até chegar a um ponto ideal para eles - já em Terra da Morte (se quiser, tem uma resenha dele no blog) também há uma cena de estupro, mas é totalmente frívolo e sem objetivo, e detalha muito mais do que em Laranja Mecânica!
    Mas um ponto positivo e, ao meu ver, genial, é que as cenas pesadas se concentram apenas no início do livro, na primeira parte, de três em que o livro é dividido; e no final você até entende a necessidade de tanta violência sendo jogada na sua cara logo no primeiro capítulo. Mas as cenas nem são tão descritivas, porque tudo é detalhado com o vocabulário nadsat, porém você não vai escapar de algumas partes repulsivas narradas com a excentricidade de uma mente doentia.

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  3. Olá
    Tenha a maior vontade de ler esse livro. Interessante que os clássicos distopicos possuem um vocabulário próprio, pelo menos é assim em 1984. Parabéns pela resenha, vou tentar ler esse livro o mais rápido possível.
    Abraços

    estantejovem.blogspot.com.br

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  4. Olá, Paulo!
    Já faz algum tempo que li 1984, mas os vocábulos criados por Orwell nem se comparam, em quantidade, aos criados por Burgess. Só me lembro da palavra "teletela" em 1984 de diferente...
    No Laranja Mecânica, para você ter uma ideia, existe até um glossário no final do livro com 6 páginas!
    Vou transcrever um trecho aqui que vai mostrar um pouco da violência e do vocabulário nadsat do livro:
    "Eles fizeram um pudim desse vek starre, fazendo crac crac crac nele com as rukas punhadas, rasgando suas platis e então acabando com ele ao meter a bota no seu ploti nagoi (que estava todo vermelho-króvi na lama grazni da sarjeta) e depois saindo correndo muito skorre".
    Viu? As partes violentas são basicamente assim, e todo o restante do livro utiliza esse mesmo vocabulário, então você acaba aprendendo as palavras mais importantes. Todavia, como dito na resenha, o livro não se resume em momentos violetos. Espero que ainda esteja ansioso para iniciar a leitura após essa pequena demonstração...
    Grande abraço!

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  5. Oi Arthur!!!
    Eu estava com muita vontade ler ao livro, e, como queria comprar a edição de aniversário e estava meio sem grana, venho adiando essa vontade ainda mais. Porém não resisti e assisti ao filme.
    Pelo filme, também compartilho da mesma opinião que você: não acho que houve justiça pelos crimes do Alex.
    Ainda quero ler, ainda mais agora depois da sua resenha, só estou receosa com a linguagem... rsrs. Acho que é trauma por causa da leitura do desafio.
    Beijos
    aculpaedosleitores.blogspot.com.br

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  6. Oi, Bia!
    Então, na verdade eu sempre quis essa edição antiga mesmo. Gosto muito dessa capa, mesmo a edição nova sendo tão caprichada. Tive medo de pararem de lançar o livro com a capa antiga e comprei logo.
    Um livro com edição nova e que eu quero muito comprar (apesar do preço alto) é "It - A Coisa". A capa feita pela Suma de Letras está incrível!
    Quanto ao vocabulário Nadsat, ele só incomoda na primeira parte do livro, depois você se acostuma e decifra as palavras pelo contexto.
    Espero que leia o livro e o resenhe no ACEDL! Fico aguardando.
    Grande abraço!

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  7. Eu nunca li Laranja Mecânica, e até explicitei em um post lá no blog: eu li o prefácio desta edição aí que vc colocou a foto e perdi totalmente a vontade, pq me tirou a surpresa! MInha irmã, no entanto, leu e adorou rsrsrs. No mais, curti mto tua resenha! http://livroarbitriodotco.wordpress.com/

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  8. Karla, eu já iniciei a leitura sabendo que o livro era muito violento e que haveria uma lavagem cerebral em algum momento, então já tinha consciência de que o livro não me surpreenderia.
    Comecei a ler porque queria saber como o Burgess trabalhou questões tão delicadas como o estupro e a insanidade; além de, apoiado por vários comentários positivos, tentar descobrir como a narrativa do autor conseguiu encantar tanta gente apesar da temática.
    Entretanto, no final da leitura, mesmo já sabendo de como a história se desenrolaria, eu me considerei surpreso. Talvez, não tanto pela história em si, mas por me ver concordando com todos aqueles comentários positivos a respeito da obra.
    Espero que um dia seu interesse pelo livro seja retomado.
    Grande abraço!

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  9. Oi, tudo bem? Sempre vi muita gente falando bem desse livro e tive vontade de ler. Mas nunca procurei me informar melhor, porém agora que li sua resenha e vi que o livro traz uma mensagem e mostra as mudanças na mente do protagonista me interessei bem mais! Curto muito livros desse tipo! Vai pra minha lista de compras! Gostei da resenha! Bj

    http://theuniverseofutopia.blogspot.com.br/

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  10. Que bom que consegui fazer com que você se interessasse ainda mais pelo livro, Angela! É uma leitura muito prazerosa (não que eu seja um nadsat sádico, mas a escrita do Burgess torna o livro gostoso de se ler). E, sim, ele traz uma senhora mensagem! Espero que desfrute dessa leitura e consiga captar os pontos mais importantes desse livro incrível.
    Grande abraço!

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