Chegamos no restaurante, era um cinco
estrelas e deixavam isso bem claro no preço dos pratos. Tínhamos
lugares reservados e o garçom (se é que aquele rapaz era um garçom)
nos acompanhou até nossa mesa.
–
Querido, tem certeza que quer jantar aqui
hoje? Eu posso fazer um mexidão com o que tem lá em casa...
– É?
O
garçom (esse sim era garçom) trouxe os cardápios e foi embora após
um leve cumprimento com a cabeça.
–
Claro. E, se não for, é bom que nós a
tornemos, até frango aqui é caro.
Ela
sorriu e depois deu uma olhada ao redor.
– Não
sei como me comportar aqui, nunca tinha vindo num restaurante tão
sofisticado.
– Não
se preocupe, ninguém aqui sabe, apenas acham que sabem. Olhe aquele
casal por exemplo: ela não para de falar e ele parece estar muito
satisfeito com isso, porque se você reparar bem, ele está se
esforçando para retirar um fiapo de carne que ficou preso nos
dentes. – Ela sorriu de novo. Ela sempre sorri quando faço piada,
e eu amo isso.
– Que
horror! Como notou isso de tão longe?
–
Está brincando? Notei logo na entrada, a
acompanhante dele só não viu ainda porque fala mais que uma
matraca.
–
Ótimo, olhe aquelas duas senhoras agora
– Ela parece ter entrado na brincadeira – Qual você acha que é
a história delas?
–
Certo. Provavelmente elas são amigas de
longa data, jogando bingo, é claro, – Ela sorriu mais uma vez –
e agora seus maridos devem estar assistindo o jogo na TV enquanto as
duas vieram esbanjar o dinheiro da família.
Antes
de eu concluir o pensamento, as duas senhoras trocaram um selinho.
Não conseguimos conter o riso, chamamos a atenção de metade do
restaurante, inclusive da linguaruda, que olhou para nós, dando
brecha para que seu companheiro tirasse o fiapo de carne dos dentes
utilizando as mãos.
Quando
paramos de rir, o que demorou mais do que o previsto porque no meio
das risadas eu acrescentei: “O mais engraçado é que a minha
história não está necessariamente errada!”; o garçom voltou à
nossa mesa perguntando se já havíamos escolhido nossos pratos, com
cara de poucos amigos.
–
Sim, senhor – Ela disse – Eu vou
querer esse Blaquette de vitela –
imitando um sotaque forçadamente francês. Ela olhou para mim depois
de falar e eu fiz uma cara de aprovação que queria dizer “nada
mal!” – E um pouco do seu melhor vinho.
– O melhor vinho da casa custa R$
2.400,00.
– Então pode me trazer o seu pior
vinho. – Corrigiu ela depressa.
–
Para mim
traga Coq au vin, –
Também imitei um sotaque forçado – e o mesmo vinho.
– Oui
mon senhor – E ele voltou para
a cozinha.
– Ele sabe falar francês melhor do
que a gente.
– Sabe nada, se soubesse teria
traduzido o “senhor” também. – E mais uma vez ela riu.
Conversamos um pouco mais, ela me
contou o que lhe ocorrera mais cedo e, quando estávamos quase
acabando os nossos pratos:
– Ai meu Deus! Aquilo é uma aliança
na taça?
Virei o pescoço pra olhar um outro
garçom trazendo uma única taça de champanhe, numa bandeja, com uma
aliança dentro.
– Puxa! Que clichê e falta de
criatividade! – Ela disse e eu engoli em seco – Não! Não foi
você que pediu pra fazerem isso, foi? – O garçom se aproximava.
– O que você acha? – Olhei no
fundo de seus olhos.
O garçom passou direto e serviu a taça
na mesa das duas senhoras.
– Eu não acredito! Você quase me
matou do coração agora!
– Achou mesmo que eu faria uma coisa
tão batida?
– Ai, Neide! Você tem certeza de que
é isso que quer? – A voz de uma das senhoras ecoou no salão.
Rostos se contorceram ao perceber o que estava acontecendo, mas eu e
minha futura esposa fomos os primeiros a puxar as palmas.
Autoria: Arthur Dias
***
Nota 1: Quem quiser pegar o texto para uso geral, sinta-se à vontade; apenas me comunique antes e credite ao autor (Arthur Dias) e ao blog (DiscoDiVinil).
Nota 2: Finjam todos que são grandes críticos de literatura e tentem me orientar: critiquem, sugiram mudanças, apontem meus erros e comentem o que acharam do texto.
Adorei! Você é muito bom com contos cômicos, Arthur. Não pare se escrever!
ResponderExcluirDesde o primeiro até esse aqui (que eu já li todos) você deu uma boa melhorada, agora está com seu jeito de escrever. Mas ainda assim, está tudo muito superficial, fique de olho nesse ponto. Abração!
Obrigado, Samuca!
ResponderExcluirPois é, a Evellin do Acampamento Literário (não sei se você conhece) me deu uma dica parecida a uns dias. Disse que meus textos vão muito direto ao ponto, sem um rodear na história para que fique mais interessante. A resposta que dei a ela foi sobre o tamanho do conto, que tento deixar sempre o menor possível.
Agora, quanto a superficialidade, acho que pode-se melhorar sem alongar o conto, portanto ficarei de olho nesse ponto sim! ;D
Essa cisma que tenho com contos curtos é que eles geram mais comentários, são melhor adaptados para blogs, entende? Se eu publicasse um conto muito grande, mesmo sendo profundo, interessante e cativante, não seria lido por muitas pessoas. E já que o que eu busco ao disponibilizar esses contos através do blog são críticas e sugestões de melhora, quanto mais pessoas o lerem, melhor.
Estou pensando em escrever um livro, daí vou publicando cada capítulo em um post. Este poderia ser melhor trabalhado e aprofundado.
Mas enfim, obrigado pelo comentário, pela dica e grande abraço!
Adorei, como sempre. Acho que você deve publicar logo seus contos, quero ver no papel!!!
ResponderExcluirBeijos,
aculpaedosleitores.blogspot.com.br
Hahaha, obrigado pelo prestígio!
ResponderExcluirPreciso juntar uns 100 contos pra compor um livro, visto o tamaninho de cada um, haha. Mas, apesar de não ter data certa, quero muito publicá-los. Em breve ele estará na sua estante. :D
Grande abraço!
Adorei! Bem legal esse conto, Arthur. Continue assim.
ResponderExcluirObrigado, Dani. (:
ResponderExcluirAbraços.
Cara, muito legal se blog, eu em uma galaxia muito distante já tentei criar contos, ou pelo menos uma historia decente, mas percebi que foi bom eu ter parado kkkkkk, seu texto esta muito bom, como já disseram lá em cima, tem um bom potencial em contos cômicos, tenho que concordar. Bom sobre minha critica (Sou um dos criticos mais famosos sabe! kkkk), acho que ficou muito repetitivo a parte onde descreve quando ela sorri, na 'minha' opinião não precisava de todas elas, mas posso estar errado, veja apenas com um ponto a ser pensado. Mas em tudo se tem talento, parabéns.
ResponderExcluirAbraço.
Obrigado pela crítica, Michael!
ResponderExcluirPois é, analisando melhor acho que eu poderia ter retirado alguns momentos em que ela sorri, mas isso acabou corroborando para o tom cômico do conto. De qualquer forma, pensarei nesse ponto e o evitarei em contos futuros se possível.
Por que você parou de escrever? Poderia ter continuado e ir publicando eles gradualmente em um blog. É isso o que eu faço e até o presente momento vem dando muito certo. Recebo um feedback bacana e que me auxilia em diversos pontos.
Considere a possibilidade e, se criar um blog para seus contos, me comunique! Haha.
Grande abraço!
Adorei você é muito bom nisso, faz como se a pessoa estivesse no lugar.
ResponderExcluirhttp://falogarota.blogspot.com.br/
Obrigado, Andressa. :]
ResponderExcluirAbraços.
Ficou muito bonitinho! Fofo e engraçado esse pequeno "grande" momento entre um casal!
ResponderExcluirParabéns novamente por sua criatividade, Arthur!! ^^ Muito bom mesmo.
Bjos
Obrigado, Bruna!
ResponderExcluirGrande abraço.
Oi Arthur!
ResponderExcluirGostei demais desse novo conto, muito criativo e divertido! Ri demais da situação no restaurante e seus clientes peculiares. Fiquei me perguntando qual seria a surpresa que o casal em questão teria quando o pedido finalmente acontecesse. rsrs
Parabéns, ficou muito legal! :D
xx
Vê
Only The Strong Survive
Obrigado, Vê! xD
ResponderExcluirDecerto que esse conto se passou num início de mês, todo mundo quis torrar o salário. Haha.
Abraços.
Legal o seu conto, mas aquela parte de " adivinhar a história da pessoa" eu tenho quase certeza que já vi em um filme, mas tirando isso eu gostei, vc escreve muito bem :)
ResponderExcluirSim, provavelmente o filme que você citou é "Uma Noite Fora de Série".
ResponderExcluirO casal protagonista do filme também brinca de adivinhar a história das pessoas e, desde que o vi, passei a observar muito mais as pessoas nos lugares públicos. Tanto escrevi um conto sobre isso.
Obrigado por gostar do conto.
Grande abraço!
Gostei bastante do seu texto,acho que voce tem bastante potencial.
ResponderExcluirUma critica, fiquei um pouco perdida nas falas dos personagens, por não saber se era o garçom ou o mulher que estava falando, mais tirando isso o texto ficou ótimo.! :D
Pois é, mais uma das minhas manias: Não nomear os personagens. Isso pode confundir um pouco mas acaba dando um aspecto mais impessoal ao texto. Geralmente mesclo textos com personagens nomeados com textos com personagens anônimos; intercalando semanas confusas com semanas compreensíveis.
ResponderExcluirAbraços.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado pela análise, Thays!
ResponderExcluirNa verdade, eu gosto de comentários assim. Pode descer o sarrafo no meu texto que eu vou é agradecer, haha.
Então, esse erro que você destacou me passou despercebido. Eu já sabia que nesse caso deveria se usar "assistindo ao jogo" (até decorei que quando o verbo 'assistir' tem sentido de ajuda se retira o A). Mas acabei deslizando... ;/
Não vou corrigir no conto, até para que quando eu estiver escrevendo o meu centésimo conto eu poder comparar o meu nível de escrita com os contos passados.
Eu também não sabia como nomear esses textos, achei que "crônica" servisse para textos maiores apenas, mesmo que os meus também retratem o cotidiano. Chamei de "conto" somente pelo tamanho mesmo, se você souber um nome mais apropriado, pode me dizer que eu ajusto aqui.
Obrigado pelo comentário e grande abraço!
Então, essa definição de conto x crônica sempre foi meio chatinha. Eu sempre aprendi que conto tem mais de um dia e crônica tudo acontece em um dia só, entende ? No caso do seu texto, seria crônica, mas temos por exemplo, Martha Medeiros. Ela nem sempre escreve uma história, mas os textos dela são considerados crônicas. Vê como é complicado ? Vai muito de 'gramática' e autor. Temos como exemplo de contos o Livro de Contos do Machado de Assis, perceba que as histórias dele são curtas, mas ainda assim mais longas que um texto intitulado crônica. De qualquer forma, a nomeação do seu texto não faz diferença rs ele continua bom e legal, no final, cabe a você defini-lo =)
ResponderExcluirPois é, a nomeação é confusa e pouco importa. Continuarei chamando de contos, seriam uma espécie de 'contos voltados para blogs', em que o texto é mais curto para o formato da internet.
ResponderExcluirObrigado pelos esclarecimentos. :]
Adorei, Arthur!
ResponderExcluirCada vez melhor hein!
Beijos
Li
literalizandosonhos.blogspot.com.br
Haha, muito obrigado, Aline!
ResponderExcluirAbraço.
Adorei o conto. Continue a escrever!
ResponderExcluirxoxo
http://acordescoloridos.blogspot.com.br/
Obrigado, Jocilene. :]
ResponderExcluirGrande abraço!
Eu gostei, mas seria melhor se fosse maior.
ResponderExcluirHahaha, obrigado, Jaque!
ResponderExcluirNa verdade eu não deixo o conto muito grande para que mais pessoas o leiam (mesmo quem estiver sem tempo ou com preguiça de ler um texto muito longo).
É claro que contos maiores são melhor trabalhados, e eu também escrevo contos desse tipo, confere lá e depois me fala o que achou. :]
Adorei!
ResponderExcluirO bom de ser um conto curto é que realmente lemos rapidinho e não corre tanto o risco de se tornar chato, continue escrevendo!
Obrigado, Stéphanie. :]
ResponderExcluirAbraços.